Ontem foi um daqueles dias em que sentimos falta de algumas coisas que nos eram familiares no Brasil. Em geral sentimos mais isso no hora das refeições...
De qualquer forma, tentamos comer pizza em mais um restaurante italiano, mas ainda não foi desta vez que conseguimos encontrar algo que se pareça com as pizzas de São Paulo (e nem com as cantinas de São Paulo, neste caso). Mas também não se pode esperar muito.
De qualquer forma, depois da janta fomos procurar alguma coisa para ver no
cinema aqui do lado e qual não foi a nossa surpresa ao ver em cartaz "The Year My Parents Went on Vacation". Trata-se de
"O Ano em que meus Pais Saíram de Férias", filme que já tínhamos visto em São Paulo, mas que decidimos ver de novo aqui, porque a Jeanne queria escutar um pouco de Português, e porque o filme mostra bastante a cidade, ou pelo menos um pedaço dela, o Bom Retiro, que eu freqüentava bastante.
É um filme de
Cao Hamburguer, que eu já conhecia muito bem como diretor de excelentes curtas de animação
stop motion (com massa de modelar). Este seu segundo longa-metragem (o primeiro foi "Castelo Rá-Tim-Bum, o filme", versão para o cinema da série infantil que ele já dirigia na TV Cultura.) concorreu ao Urso de Ouro em Berlim, além de ter sido o escolhido para (tentar) representar o Brasil no Oscar, à frente do aclamado
"Tropa de Elite" e de
"O Cheiro do Ralo" (meu favorito), mas não conseguiu a indicação.
Quanto à minha opinião, eu já tinha achado o "Castelo...", apesar da boa trilha sonora do sempre formidável André Abujamra, bastante
competente (como filme para crianças) mas não muito mais do que isso, o que, na verdade, não é dizer pouco, tendo em vista as porcarias que os brasileirinhos têm que engolir no cinema (5 minutos de qualquer filme da Xuxa já são suficientes para me deixar profundamente deprimido). Este "O Ano..." é um filme bom, sem dúvida, e mereceu os muitos elogios que recebeu, mas me pareceu um pouco mal acabado ou desarticulado. A ambientação nos anos 70 deixa um pouco a desejar em alguns momentos, algumas personagens importantes ficaram um tanto bidimensionais, como o velho Shlomo, cuja história pessoal, provavelmente muito interessante e relacionada com os eventos da época, não é nem sugerida em nenhum momento, e a ditadura, uma referência importante na trama, aparece muito pouco. Também sofre com a inevitável comparação com o grande
"Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios" e com o recente argentino
"Kamchatka". Mas o bairro do Bom Retiro é bem retratado, a Copa de 70 também aparece bem, sem exageros, os atores são bons, mesmo as crianças, e a trilha sonora (desta vez a cargo de Beto Villares), se não é extraordinária, é sem dúvida muito bonita e cuidadosa, fazendo jus ao cenário multicultural.
Não sei se eu teria ido duas vezes ao cinema para ver esse filme (fiz isso em pouquíssimos casos muito especiais), mas é claro que ver o filme com legendas em Inglês, em meio a
gringos, não deixa de ter um sabor diferente. Por mais que eu tentasse evitar, não para não ficar imaginando o que será que os
gringos estavam entendendo de tudo aquilo. O filme, é claro, faz muitas referências que só brasileiros entenderiam, e as legendas, como também era de se esperar, traduzem no máximo 80% do que está sendo dito (sem mencionar as
entrelinhas). Isso me fez pensar, mais uma vez, no quanto estou perdendo quando vejo um filme estrangeiro, ou mesmo diálogos em língua estrangeira em filmes americanos (o (péssimo) "Turistas", em cartaz na televisão aqui, também dá uma boa idéia dessas perdas, mas não vale a pena nem por isso). Mas espero que tenha sido divertido para os canadenses também. Pelo menos não vi ninguém levantar no meio do filme.
Encontramos esse filme totalmente por acaso, mas depois eu pesquisei e descobri que está em cartaz em ainda mais um cinema de Toronto, o
Cumberland, perto da
Yonge & Bloor, que sempre passa filmes estrangeiros. Fica aqui a recomendação.